DISPAROS
- Dione Castro
- 17 de mar. de 2019
- 2 min de leitura
Era domingo e perto do anoitecer resolvi andar de bicicleta com minha pequena. A cada pedalada encontrávamos pessoas reunidas, amigos, professores, colegas de classe da antiga oitava série. Além de cães de rua, verdadeiros “vira latas” nos acuando feito presas. E ela, tranquila feito a mãe, como se nada tivesse acontecendo. Já eu, que tenho pavor de cachorros, estava apreensivo e receoso em levar uma bela mordida na batata da perna. Mas, como pai não poderia perder o “prumo”.
Pedalando, apresentando as ruas e as arvores à minha pequenina, cantando músicas para crianças, e ela como sempre sem parar o olhar. Não perdia um detalhe. Na rua Joaquim, próximo à esquina escutamos o primeiro barulho. Forcei o olhar e vi um aglomerado de gente. Eram sete. Falavam alto, na verdade três gritavam: “mãos para trás...”; “deitem no chão, vagabundos”. Eram as ordens.
Haviam resistências. Um sem camisa e de bermuda veio correndo do beco com o rosto coberto apontando para eles: “vai morrer, vai morrer todo mundo”, berrou. Logo pensei na tragédia. Estava presenciando um triste momento. Aqueles três repentinamente esconderam atrás do gol bola apontando e disparando. Enquanto os que no chão estavam, correram para trás do fusca azul calcinha. E também, retribuíram da mesma forma com disparos.
O que estava sem camisa parou de correr quando eu passava com minha pequena, desligou as luzes do brinquedo e calou-se interrompendo os disparos. Todos os outros fizeram a mesma coisa, abaixaram os coloridos brinquedos e trancaram a boca não emitindo nenhum som de disparo enquanto passávamos. Mesmo sendo uma brincadeira, eu não fiquei ileso.
Dione Castro
17/03/2019
Publicado em Nossas Letras em 24/03/2017, Jornal do Comércio da Franca, Franca São Paulo.
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